sábado, 2 de julho de 2011

A vaga de guarda-redes brasileiros

Estamos no início de Julho, grande parte dos clubes portugueses das ligas profissionais iniciam as suas pré-épocas, o mês será longo, com diversas entradas e saídas, como natural, um pouco por toda a Europa. Com toda a certeza, ainda vamos assistir a algumas transferências milionárias a partir deste cantinho, mas o que me transporta por estas linhas, hoje, é o aumentar exponencial do número de guarda-redes brasileiros no futebol português!

Há muitos anos que, em Portugal, se discute a falta de atletas para duas posições especificamente, o ponta-de-lança, após o fim da vaga de bons avançados portugueses, com Fernando Gomes, Manuel Fernandes, Nené e Rui Jordão a lutarem por um lugar, veio a míngua, onde encontrar um bom avançado centro tornou-se cada vez mais difícil, e o posto de lateral esquerdo, quase imemorialmente o nosso ponto mais débil, agora bem ocupado por Fábio Coentrão e com uma ou outra alternativas interessantes.

Ora, no Brasil, o grande ponto fraco da história do futebol no Brasil foi o guarda-redes, que de acordo como muitos historiadores do jogo conseguiu retirar alguns títulos à selecção canarinha ao longo dos tempos. Actualmente não é bem assim, de repente o Brasil começou a formar bons guardiões, que se encontram nas melhores equipas do mundo a lutar por títulos europeus! Nos últimos anos, confesso, temos recebido bons goleiros, como se diz por terras de Vera Cruz, no nosso futebol, Nilson, Helton, Bracalli já confirmaram qualidade, enquanto outros vão exibindo laivos de brilhantismo aqui e ali.

Dizem alguns, Portugal enfrenta uma crise na baliza, não há jogadores com carisma, há falta de qualidade, o que me deixa um pouco espantado. Antigamente, sem treino específico, sem tanto tempo dedicado à melhoria dos guarda-redes, tínhamos balizeiros de nível, Azevedo, Carlos Gomes, Barrigana, Costa Pereira, José Henrique, Capela, Acúrcio, Américo, Vítor Damas, Manuel Bento, Silvino, Vítor Baía e a lista continua... o que sucedeu agora? Temos dos melhores técnicos do mundo, Hugo Oliveira, licenciado pela FIFA em treino de élite para guarda-redes, Silvino, que somente colocou no topo, ou ajudou bastante a que tal acontecesse, Petr Cech, Júlio César e Iker Casillas, para citar dois, como aceitar o comentário? Não é possível!

Lembro-me de acompanhar as selecções e ver talentos como Sérgio Leite, Pedro Albergaria, Mário Felgueiras ou Beto, entre tantos outros, a brilharem e a prometerem carreira ao mais alto nível, mas toldados nos seus clubes de formação por valores chegados do estrangeiro ou nacionais, promessas menos confirmadas do que aquilo que se esperaria, limitadas por uma nova nuance mercantil, os guarda-redes estrangeiros e, essencialmente, brasileiros! Os jovens talentos portugueses para a baliza vêem-se constrangidos a terceira alternativa no primeiro ano de sénior e a sucessivos empréstimos, onde jogam ou não, até que o clube decide dispensá-los, já em meados dos seus 20 anos, tendo-lhes limitado a margem de progressão e não aproveitando os atletas.


Somos capazes de observar um guardião vindo do Brasil com 21 ou 22 anos a actuar numa formação portuguesa, com um português da mesma idade sentado no banco ou nas reservas, abdicando eu aqui de abordar os aspectos técnicos e as escolhas dos treinadores, não deixa de me fazer confusão a contínua e crescente falta de oportunidade aos nossos guarda-redes!

Ainda com a época na barriga, já se contam 20 guarda-redes brasileiros na Liga Zon-Sagres e passo a citá-los, Helton e Rafael Bracalli, FC Porto, Júlio César e Artur Moraes, Benfica, Marcelo Boeck, Sporting CP, Marcos, Sp. Braga, Nilson e Douglas, V. Guimarães, Elisson, Marcelo Valverde e André Zuba, Nacional, Cássio, P. Ferreira, Huanderson, Rio Ave, Peçanha, Marítimo, Gottardi e Luiz Carlos, União Leiria, Fabiano Freitas, Olhanense, Diego Silva, V. Setúbal, Enoque Paes, Beira-Mar, Adriano, Gil Vicente, mesmo deduzindo que Júlio César e Diego Silva saiam dos clubes, é de crer que ainda chegarão mais guardiões brasileiros, notando-se que há mais canarinhos para a baliza do que há clubes a disputar o principal campeonato!

Não se questiona o valor dos atletas, apenas se há uma real necessidade de importação quando existem jovens de, pelo menos, igual qualidade, ou se não será apenas o reflexo do actual estado do futebol português, subjugado ao poder empresarial do meio e cujas relações com clubes empresas brasileiros parece impôr atletas aos clubes nacionais...  

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