Enquanto um pouco por toda a Europa se prepara a nova época, no norte se joga a época 2011, vamos observando os campeonatos continentais e mundiais que cobrem esta altura da época.
Nas abordagens aos jogos, nos comentários - ou falta deles - estereotipa-se bastante. A Gold Cup, por exemplo, foi praticamente ignorada pelos media desportivos portugueses, rotulada como competição de terceira linha no contexto futebolístico internacional. É verdade que se assistiram a algumas partidas desequilibradas, pode-se ter notado uma ou outra pecha a nível técnico ou mesmo táctico por parte de alguns atletas ou selecções, mas foi uma competição alegre, aberta, com jogos agradáveis à vista, e ofereceu a oportunidade, através do Eurosport diga-se, de se verem futebolistas praticamente desconhecidos do público europeu, desde panamianos a cubanos, passando pelos de Guadalupe, salvadorenhos, granadinos, jamaicanos, guatemaltecos ou hondurenhos.
Continuo plenamente convicto de que as américas deveriam ter apenas uma confederação continental, como começaram. A divisão criada, assente na precoce profissionalização do futebol na América do Sul, nomeadamente no Brasil, Argentina e Uruguai, fez sentido dada a grande clivagem, a dada altura, entre as nações da América Central, do Norte e Caraíbas e os países sul-americanos. Contudo, actualmente, não tem razão de ser. Veja-se, por exemplo, a Copa América, de que se falará mais detalhadamente abaixo, convida a cada prova o México e outra nação, por vezes da CONCACAF, para poder ter um número suficiente de selecções que dêem alguma maior sustentabilidade à prova, digamos assim.
Observamos também a presença de equipas mexicanas na Libertadores, além de competirem na Liga dos Campeões da CONCACAF! Ou seja, faria todo o sentido fundir as confederações e realizarem-se competições continentais de selecções e clubes com todos presentes, principalmente percebendo-se que o diferencial entre nações e clubes é, agora, mínimo! Esquecendo as razões financeiras - as únicas que impedem esta consecussão, pois cada confederação recebe balúrdios da FIFA e não está disposta a abdicar deles, ainda que haja solução simples para isso, acordarem a manutenção desses valores para os países, criando zonas dentro da confederação - não há uma única razão que justifique, hoje em dia, esta divisão!
O mundial de sub17 ofereceu-nos jogos sublimes, jogado a meias entre relvados naturais e sintéticos, em pleno Verão mexicano, sob temperaturas escaldantes, elevada humidade e, em determinados locais, actuando em altitude, os pequenos jovens - ainda juvenis - proporcionaram-nos exibições de encher o olho, apesar de já se sentir em diversas selecções vícios dos seniores, na queima de tempo, no exagero dos toques sentidos, como é exemplo o Brasil, mas sem tirar o brilho de um mundial realizado fora de tempo, em Junho, quando quase todos os miúdos presentes deveriam estar em exames, a terminar o ano escolar, pois muitos não vão conseguir fazer carreira no futebol e, mesmo que o façam, há vida para além do jogo, mais importante e determinante. Neste caso, cartão vermelho para a FIFA pela data escolhida, por muito que seja justificada com as datas do Mundial feminino, faria muito mais sentido, como já o referi em conversas, realizá-lo em Setembro, quando as aulas estão a começar, as épocas dos clubes - em juvenis - também ainda estão somente no início, na maior parte dos locais deste planeta!
Mas voltando ao campeonato em si, deu um prazer imenso vê-lo, deu e está a dar, agora que nos aproximamos da final. Também se descobriram novos talentos e observou-se um fenómeno que se vem acentuando, essencialmente, nesta última década, o multiculturalismo das selecções, fruto da globalização, dos cada vez maiores fluxos migratórios, resultantes da liberalização económica e maior facilidade de transição, de viagem de uns locais para outros. Ao notado anteriormente deve acrescentar-se uma alteração de mentalidades a nível de quadros federativos. As novas mentes que fazem parte das federações, ex-jogadores ou técnicos de nova geração, já se habituaram a conviver com diversas naturalidades e nacionalidades nos clubes, resultado da lei Bosman, o que torna a chamada às selecções de jovens de várias etnias um fenómeno cada vez mais natural.
Não se pode, nem deve, criticar este facto. Afinal, se uma criança vai com os pais para outro país com cinco, seis, dez, doze anos, inicia-se ou continua a jogar futebol no país de adopção - já nem mencionando quem nasce no país, pois aqui nem existe qualquer questiúncula possível - é apenas normal que seja chamada, caso tenha qualidade, a representar essa selecção, desde que tenha nacionalidade adquirida, ainda que as suas raízes sejam, por vezes, de diversas origens, cabendo-lhe posteriormente decidir o melhor para si, para a sua carreira ou para a sua nação.
Há uma grande confusão criada e instituída entre naturalizados, assimilados e descendentes, onde o único ponto comum é a presença de diversas nações dentro de cada um desses atletas. Passo a explicar a distinção, entende-se um naturalizado como alguém que adquire a nacionalidade de um país para onde vai, por razões laborais, normalmente, pessoais, matrimoniais ou afins; podemos apelidar de assimilado à criança ou ao jovem que acompanha os progenitores ou familiares numa aventura emigrante, passando a frequentar a escola do país de adopção, executando tudo aquilo que um nativo realizado, apesar de poder não abdicar das suas raízes, presentes por norma em casa, e um descendente é alguém já nascido num novo país mas com raízes noutro(s)! Assim, convém não confundir estas várias formas de indivíduos, que podemos ver no futebol, tema deste texto. Também devemos ter presente a distinção que deve ser efectuada entre as origens e o jogo, ou seja, podemos ter raízes noutra nação mas futebolisticamente sermos da nação de adopção. A Alemanha, no Mundial de sub17, é o melhor exemplo, com 11 atletas em 21 de raízes não germânicas mas TODOS futebolisticamente alemães!
O Mundial feminino tem sido um regalo, pelos comentários, pelos(as) convidados(as) que o Eurosport Portugal tem trazido a estúdio e, naturalmente, pelos jogos. Não foi surpresa a qualidade do jogo, mas é agradável observar que tem movimentado muitas pessoas no nosso país, esperando-se que finalmente consiga o campeonato sair do limbo em que se encontra e ganhe visibilidade, apesar de ainda estar pouco crente nessa situação. Já ficarei bastante satisfeito se, no próximo jogo feminino que for ver, o campo estiver bem composto com mais de mil pessoas presentes, a apoiar as nossas meninas e, tão importante, forem dados passos para fechar o hiato competitivo que existe entre as infantis e as sub19, uma altura em que as meninas deixam de poder actuar com os rapazes, importante na sua evolução e, ainda mais por todas as situações específicas do crescimento das raparigas, essencial para garantir que continuem na prática da modalidade.
Um dos principais erros que se comete, normal para quem não está habituado a ver jogos femininos, é a contínua comparação com o masculino. Senhores(as), futebol feminino - ou qualquer outra modalidade na vertente de senhoras - não é futebol masculino, é mais honesto, mais próximo do jogar à bola, se quisermos, há muito mais respeito, joga-se a partida pela partida e protagonistas são sempre as atletas, não há ronha, a capacidade de sofrimento é superior e a entrega ao jogo é, no mínimo, idêntica! Cada vez que se assiste a um jogo feminino deve-se ir capacitado para assistir a uma partida de senhoras e ponto. O que se aplica a todos os outros desportos, cuja beleza existe na variante masculina e na vertente feminina. Quem gosta de desporto e conhece desporto, compreende o que estou a tentar dizer.
Quando se antecipava o Mundial alemão, falava-se no mundial dos mundiais para o futebol feminino e não tem defraudado, de todo. Nota-se uma evolução tremenda desde o último campeonato do mundo, desde logo nas guarda-redes, uma das grandes pechas do futebol feminino, tecnicamente mais evoluídas, talvez fruto de treino específico, a ocuparem melhor a baliza, sem tantas saídas extemporâneas, falhas de intercepção e más leituras de trajectórias da bola.
Uma das grandes notas que vai ficar deste Mundial será a quantidade de golos resultantes de lances de bola parada, o que prova o excelente trabalho técnico-táctico que tem sido realizado nas selecções, seja em livres directos, seja a partir de cantos ou faltas indirectas, um exemplo.
Claro que, fazer um evento desportivo na Alemanha é sucesso garantido, tal a cultura desportiva do povo, talvez a única herança positiva de Adolf Hitler, e é bonito ver as bancadas repletas, o colorido misturado, o apoio constante e o fair-play dentro e fora do terreno de jogo! Só tenho pena de não conseguir a caderneta de cromos (nem via amazon.de) e os autocolantes, pois é uma colecção histórica, a deste mundial!
Ainda neste mês de Julho iniciar-se-á o Europeu masculino de sub19, na Roménia, num formato que a meu ver está desajustado da actual realidade - eu votaria em algo idêntico ao que se faz no basquetebol, com divisões, de forma a manter todas as selecções activas - onde competirão oito selecções (caberiam 16 perfeitamente) na fase final, quase todas novidades nestas andanças, e com um mérito para a organizadora, todas as partidas terão entrada gratuita, uma óptima forma de promover o futebol e o campeonato! Também no final do mês começará o Mundial de sub20, na Colômbia, com presença lusa, onde se esperam grandes jogos e estrelas cintilantes, sem dúvida a ver!
Tem sido doloroso ver a Copa América 2011, jogos medíocres - e isto é um elogio - seleccionadores medrosos, jogadores enfadados e uma competição que se previa interessante a provar-se como total desilusão.
Para aquela que é a mais antiga competição de selecções de futebol do mundo, iniciada no tempo em que a Europa enfrentava a Primeira Guerra Mundial, é um atentado o que todos os intervenientes têm feito, todos, a organização argentina tem deixado a desejar, os árbitros têm cometido erros de palmatória, os jogadores não têm jogado e os treinadores demonstram maior medo em perder do que ambição de ganhar!
Está-me a fazer lembrar o Mundial Itália'90, considerado unanimemente o pior da história! A prova merece mais respeito e apenas cimenta a minha opinião, deveria ser reformulada e fundida com a Gold Cup - transformando-se a Gold Cup na taça caribenha - e mantendo a Copa América como tal, acolhendo 16 selecções, para já, de toda a América, as dez do sul, mais seis do centro e norte. Em relação aos futebolistas, percebe-se a pouca vontade de muitos em estarem presentes, não tendo de todo a noção da importância histórica da prova, um problema que me parece ter muito a ver com as próprias federações, que não relevam o significado da Copa América!
Ou seja, na chamada 'silly season', o defeso, muito futebol, desde o mais brilhante ao menos interessante, do verdinho, de miúdos a actuarem como homens, ao belo jogo, na verdadeira acepção, pelo toque de bola, pelas caras, pelo futebol em si... simplesmente fantástico!
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