sexta-feira, 13 de abril de 2012

Tomar a parte pelo todo, ou como algo nem sempre é como se titula

Ontem líamos a habitual página do 'londrino' Paulo Anunciação no diário 'O Jogo', destacando o Athletic Bilbau como o clube europeu que mais aposta nos jogadores formados no clube, um sublinhado justo, sem dúvida, mas que dá como absoluta uma leitura que assenta somente nas cinco principais ligas europeias, acrescentando a estas a portuguesa.
É verdade que o Athletic é um exemplo, já o destacámos várias vezes, pelo modelo, pela representação de uma nação, pela ideia, não se podendo contudo determiná-lo como o clube que, na Europa, mais jogadores tem formados localmente, especialmente porque na Europa de Leste existem diversos clubes em várias ligas cujos plantéis são quase exclusivamente formados por atletas oriundos da formação do próprio, na Geórgia, na Arménia, no Montenegro, na Eslovénia, na Croácia, na Sérvia e por aí em diante, ou a Holanda, com um sistema de formação distinto, que agrupa clubes, tornando esta afirmação absoluta como a determinação da mesma somente por uma pequena parte desse total.
Esta mesma leitura levou-nos a uma conversa que havíamos tido há algum tempo, também a propósito de uma análise que estava num dos outros diários desportivos portugueses sobre as defesas europeias, para destacar a performance de Rui Patrício e, como habitualmente, tomando como totais europeus os resultados das principais ligas europeias, o que deturpa qualquer determinação absoluta.
Nessa conversa, um amigo, adepto do Sporting CP, aludia para essa prestação e, no seguimento, abordámos Vladimir Stojkovic, o antigo guardião sérvio dos 'leões' que, nessa altura, estava com oito golos sofridos em 21 partidas da liga sérvia, ao serviço do Partizan.
No nosso périplo pelas ligas europeias, vamos prestando atenção a desempenhos ofensivos, a situações engraçadas, àquilo que escapa ao olho mediático comum, tão preso no absoluto de cinco ligas + a portuguesa.
Matías Degrá é um guarda-redes argentino não muito conhecido. Nasceu em Córdoba, na zona das 'pampas', e entrou na Europa via Atlético Madrid, onde mal jogou, rumou depois à Grécia, defendendo as cores de clubes de menor dimensão até esta época decidir dar um salto até Chipre. Assinou contrato pelo AEL Limassol e tem sido um dos pilares da excelente época realizada pela equipa que, mais de 40 anos depois, acerca-se do título nacional.
Em 27 partidas de campeonato disputadas, o guarda-redes argentino sofreu 8 (!), sim 8 golos somente, o que perfaz uma média de um golo sofrido a cada 304 minutos!
Olhando o desempenho do APOEL Nicósia na Liga dos Campeões 11/12, até se pode dizer que a liga é menor, etecetera e tal, mas a verdade é que pelo caminho ficaram equipas de ligas teoricamente superiores, o que releva ainda mais o feito do AEL, num campeonato que previlegia o rigor defensivo, diga-se também.
Independentemente disso, há que dar o merecido mérito e realçar estas exibições, numa equipa e numa liga tão plena de lusos e futebolistas que passaram pelos campeonatos portugueses.
Há vida para além das cinco 'absolutas' ligas europeias!