O mais importante evento anual dedicado ao futebol feminino teve mais uma edição, a 20ª, aproveitando este ano o fim-de-semana entre jogos para realizar um pequeno seminário dedicado ao futebol feminino, com intervenções de diversos seleccionadores e alguns membros das federações que contribuem, a par da FPF, para a organização deste Mundial em forma pequena.
Esta prova serve para dar rodagem às selecções, para preparar grandes eventos, há duas temporadas o Mundial, no ano passado os Jogos Olímpicos, esta edição o próximo Europeu sénior, aproveitando-se para observar potenciais futebolistas para as principais selecções, o que torna normal a estreia sénior de um sem-número de estrelas actuais neste evento.
A ideia na génese desta organização foi garantir um local ameno para colocar as selecções, no caso nórdicas e norte-americana, em acção, no pós-pausa invernal e pré-competições internacionais, de forma competitva.
Apesar da prova se realizar em Portugal, a selecção feminina não aproveitou - não por culpa das jogadoras, mas pelo reconhecido desleixo federativo para com o futebol feminino - para crescer e cimentar uma relação com as principais potências do jogo, podendo-se aqui falar de absorção de métodos, de conhecimento, lançamento de jogadoras para os campeonatos mais evoluídos, algo que finalmente parece estar a mudar, contudo ainda com um longo caminho a percorrer.
Na edição de 2013 marcaram presença Alemanha, EUA, Suécia, Noruega, Dinamarca, Islândia, China, Japão, Hungria, País de Gales, México e Portugal.
A final observou um Estados Unidos 2-0 Alemanha, com a fascinante, em todos os sentido, Alex Morgan a bisar, o que ofereceu às norte-americanas a nona vitória na prova.
A disputa pelo 3º lugar foi nórdica, com a Noruega a surpreender a Suécia, que controlou toda a partida, esteve em vantagem duas vezes, mas viu-se empatada no final do primeiro tempo e nos descontos da segunda parte, sendo o jogo decidido nas grandes penalidades.
A fase de grupos ficou marcada por algumas goleadas no Grupo B, nomeadamente na segunda jornada com um 5-0 dos EUA à China e um Suécia 6-1 Islândia, situação que revela um desnível actual entre selecções outrora próximas, especialmente a China, que se encontra num processo de renovação 'eterno'.
Como acima se escreveu, a Algarve Cup 2013 serviu para observar novas jogadoras, no caso das selecções europeias que estarão no Europeu'13, na Suécia, para analisarem possibilidades de integração para a fase final do Euro.
A selecção germânica, de Silvia Neid, trouxe seis futebolistas de 20 anos ou menos e cinco com 23 ou menos, sendo que nove das presentes não tinham mais de 10 partidas com a 'Mannschaft'. A Dinamarca trouxe cinco com 23 ou menos, além de duas sub21. As campeãs do mundo, Japão, chegaram com sete futebolistas sem internacionalizações e seis com menos de cinco jogos pelas 'Nadeshiko'. A Noruega apresentou-se com duas juniores ainda e a Suécia viu duas estreias absolutas na costa algarvia. Nos EUA estrearam-se duas novas jogadoras e cinco tinham cinco ou menos internacionalizações.
As selecções do Grupo C, onde entra Portugal, também se apresentaram com diversas atletas com menos de 21 ou 23 anos, algo normal no futebol feminino, tendo em conta o precoce abandono da prática futebolística pelas atletas, dada a falta de apoios, a necessidade de afirmação em contexto profissional alternativo ou vontade de constituir família, que não sendo um óbice à continuação da prática é diversas vezes razão para a saída.
A Algarve Cup tem sempre atenção norte-americana, bem mais que a portuguesa, faltando da parte dos media portugueses e das instituições uma relação mais próxima.
Um ponto positivo da edição 2013 foi a transmissão tripartida dos jogos, com a selecção portuguesa a ser acompanhada pela RTP2 (a questão que se levanta é, qual a razão para não suceder o mesmo com todos os jogos, especialmente os qualificativos?), o restante torneio a ter transmissão Eurosport e, para os EUA, os jogos da selecção norte-americana a terem cobertura Fox Soccer, a que acresce a plataforma premium online.
Nos órgãos de comunicação social portugueses, televisão pública incluída, observa-se a uma 'obrigação' de dar conta dos resultados, mas falta a vontade em explorar a prova mediaticamente. Afinal, temos as melhores jogadoras do mundo em Portugal e não há uma entrevista - com certeza, não é por falta de vontade ou disponibilidade das presentes -, não se aproveita o torneio para aquilatar as diferenças nos vários países, como é o profissionalismo no feminino, levar ao público as experiências de norte-americanas ou nipónicas na Europa, de suecas na Alemanha e em França ou germânicas na Suécia, qual a razão do 'pára-arranca' das ligas profissionais norte-americanas e tantas outras questões que se poderiam colocar para dar a conhecer aos portugueses este lado do jogo, que em Portugal é não rei mas imperador. Esta falta de interesse liga-se ao(s) estigma(s) ainda muito presente(s) na sociedade portuguesa sobre o futebol feminino.
Outra situação, que mostra muito do como (não) funciona, (não) comunica e (não) interage o nosso país política, social e organizacionalmente. O que a nossa experiência nos mostrou, em várias viagens enquanto adolescentes e jovens adultos, acompanhando diversos eventos desportivos, foi - especialmente na Europa Central e do Norte - a forma como a escola, a sociedade local, se interessa por eventos, também eles culturais, arranjando formas, visitas de estudo e sociais, de levar os jovens, até os idosos, a este género de eventos, algo que em Portugal continua a ser raro, pois uma visita de estudo, uma visita de campo, é complicadamente burocrática, sempre agarrada à desnecessidade da mesma e a um ensino, no caso escolar, todo ele teórico e desligado da realidade social, vendo mesmo o desporto como um mal necessário e não uma mais-valia.
Enquanto a mentalidade não mudar, será muito complicado crescer e desenvolver esta sociedade.
Retornando à prova, ficam abaixo as classificações finais:
1º EUA; 2º Alemanha; 3º Noruega; 4º Suécia; 5º Japão; 6º China; 7º Dinamarca; 8º México; 9º Islândia; 10º Hungria; 11º Portugal; 12º País de Gales.
Acima se indicam as classificações históricas até à edição 2013.
Portugal regressou este ano ao fundo da tabela, numa altura em que a selecção está a ser renovada, já contando com a presença de algumas das jovens que brilharam no Europeu de sub19 de 2012 (Mónica Mendes, Mariane Amaro, Jéssica Silva), mas para uma prova com tantos jogos em tão pouco tempo - utilizando atletas que jogam semanalmente - quando jogam - e com boa parte a treinar três ou quatro vezes por semana, estranhou-se - nós, pelo menos, estranhámos - que Violante se tenha quedado por um onze quase inalterado, nomeadamente no meio-campo, com um natural desgaste, a que acresce um recuo de Edite Fernandes para fazer o três da zona intermédia, com nítido prejuízo para a jogadora e para a selecção. Contudo, este é somente o nosso ponto de vista.
CYPRUS CUP 2013
A ilha de Chipre é palco desde 2008 de uma prova cujo modelo se baseou na Algarve Cup, organizada pelas federações britânicas de Inglaterra e Escócia e pela Holanda, disputando-se na mesma altura, quase como alternativa às selecções que não têm 'entrada' na prova algarvia. A edição 2013, ao contrário das anteriores, foi jogada em moldes idênticos à Algarve Cup - até aqui as selecções do Grupo C encaixavam no jogos finais de classificação com as terceiras dos Grupos A e B, podendo aspirar à 5ª posição, algo que não sucedeu este ano.
A dominadora da prova, como os EUA em Portugal, tem sido a selecção canadiana, presente nas seis finais, vencendo três delas, mas o grande jogo de 2013 foi um electrizante Inglaterra 4-4 Escócia.
A prova cipriota não conta com a selecção local, algo estranho ainda que a organização esteja a cargo de federações 'externas'. Seria interessante, do nosso ponto de vista, encaixar um quarto grupo com Chipre, Grécia, Turquia e outra selecção vizinha como Macedónia, Montenegro ou Bósnia-Herzegovina, para elevar o jogo destas selecções femininas, tão necessitadas de afirmação.
Canadá e Inglaterra disputaram a final, que pendeu para as inglesas por 1-0.
A classificação final foi a seguinte:
1ª Inglaterra; 2ª Canadá; 3ª Nova Zelândia; 4ª Suíça; 5ª Escócia; 6ª Holanda; 7ª Finlândia; 8ª Rep. Irlanda; 9ª Itália; 10ª Coreia do Sul; 11ª África do Sul; 12ª Irlanda do Norte.
Mas o mês de Março teve provas para todos os gostos, no que ao futebol feminino diz respeito, uma prova na Croácia, outra na Rússia, outra ainda em La Manga.
Na Rússia ainda decorre a prova, a Taça Primavera Kuban, envolvendo diversas selecções jovens, com as meias-finais a colocarem frente-a-frente Irão e EUA, Roménia e Ucrânia, com diversos resumos e os dados da prova no sítio da federação russa de futebol,
La Manga teve diversos torneios, com encontros de selecções sub23 e sub19.
Rovinj acolheu uma prova hexagonal, com Croácia, Eslovénia, Bósnia-Herzegovina, Rep. Checa, Rússia e Eslováquia
A final foi decidida nas grandes penalidades, com triunfo russo sobre a Rep. Checa.
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