domingo, 9 de agosto de 2020

Media, escolhas, riscos, apostas, mudanças e lideranças

 https://as.com/masdeporte/2020/08/09/polideportivo/1596941278_792978.html 

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Não poucas vezes reflectimos profundamente sobre a forma como se vê o jornalismo e os media, por parte de quem está dentro do meio tradicional. Facilmente chegámos à conclusão que existem inúmeros mitos, 'misconceptions', determinantes nas abordagens. Nota-se que mal existem conversas com quem vende os jornais e revistas, que os números digitais são analisados, porventura, de forma 'macro', sem o necessário pormenor que alavanque metodologias e/ou mudanças.

Tudo pode começar pelo leitor tradicional, da versão impressa. Qualquer um que tenha tido o cuidado de observar as vendas de jornais e revistas, não os números, as vendas físicas, facilmente repara que a maioria adquire o mesmo jornal, a mesma revista, fidelizou-se e assim permanecerá até à morte ou até deixar de encontrar justificação, no conteúdo que não na capa, para o adquirir. As capas são feitas para leitores eventuais, não os regulares, por isso devem obedecer a critérios diferenciadores, se não vende um determinado tipo de capa assim tanto quanto se apregoa, se não há um pico, vale a pena continuar no mesmo modelo, na mesma abordagem?

Sobre o digital, que fornece dados bem mais concretos, aprofundados e fidedignos, é necessário compreender os horários de navegação, o que é clicado e o tempo de leitura, para se entender a 'qualidade' da leitura, seria mandatório ter inquéritos regulares, bi-anuais, leves, imagéticos, que permitissem não apenas a interacção mais próxima com os leitores, como também ajudassem a melhor o produto oferecido, afinal o leitor é o 'core business' dos media e é essa massa, a quantidade, que permitirá angariar a publicidade fora do básico eixo associado às grandes tecnológicas, o que é possível e bem necessário para a sobrevivência.

O as.com compreendeu há alguns anos que no mercado espanhol dificilmente derrubaria a liderança do grande rival MARCA. Assim, começou a trabalhar o digital e o nome nos mercados hispânicos latino-americanos. Desta forma cresceu globalmente no mercado de leitores em espanhol, que transcende bastante os cerca de 40 milhões de espanhóis, pois o target passou de 40 para quase 600 milhões, a que acrescem talvez outros tantos que têm espanhol como segunda língua ou idioma conhecido e, por isso, também buscam media e notícias/informações na língua de Cervantes.

Como a Comscore informa, de onde os dados originam, o diário desportivo espanhol aumenta a sua liderança global na língua, em informação desportiva, sendo o segundo site desportivo mais procurado em espanhol nos EUA e o líder na América Latina.

Como em tudo na vida, fazem-se escolhas, arrisca-se, abrem-se horizontes, ou fecha-se numa redoma pouco atraente e ainda menos ampla, entendendo que é melhor ser o 'campeão da cidade', 'rei do bairro', 'líder da região', copiando modelos gastos e que nem sequer são ajustados/adaptados à realidade necessária, uma obrigação, seja no design, seja nos conteúdos.

Em Portugal nota-se uma grande resistência à mudança, a dança de cadeiras envolve os mesmos nomes há demasiados anos, as inovações são de 'charme', não se quebra mesmo com a corrente, não se cria novidade, continua-se a perder leitores, físicos e digitais, mas apregoa-se vitórias, como um nobre endividado a passear-se no seu rolls-royce ou um burguês falido no seu porsche, na sua melhor vestimenta e a oferecer jantares.

Pedem-se mudanças, alterações a sério nos modelos de comunicação e de informação. O modelo dos jornais está ultrapassado, o antigo modelo CNN dos canais de informação não se adequa, continuam a escassear os conteúdos híbridos e a aposta na informação digital paga, de onde não se extrai assim tanto de diferente, de mais-valia, face ao que se tem gratuitamente, seja em blogues especializados ou nas fontes originais... sim, apresentar conteúdos pagos onde apenas se notam alguns ajustes a traduções de conteúdos disponíveis noutras línguas também não confere grande credibilidade.

Esta era, a digital, da informação imediata e imediatista, tem algo que se nota vivamente, a crescente falta de criatividade, a falta de rasgo, muito motivada pelo 'fast click', a resposta pronta à distância de um clique que, como a 'fast food', é óptima, tem a pronta recompensa, porém está carregada de efeitos perversos e tóxicos, não-saudáveis, no futuro. Isso já se observa há algum tempo nos media, portugueses e não só.
 
Existem várias hipóteses, podem-se alterar imensas situações, pode-se aprender com os erros, mas é vital que exista vontade e visão, o que continua longe de se notar. É estranho como as administrações, habituadas a olhar apenas para os números, não pressionam por alterações profundas, mudam por mudar, para o mesmo, sem realmente avaliar, aquilatar possibilidades de verdadeiras alterações. Findam jornais em formato físico, mas mantêm o digital como se físico fosse (cúmulo do desconhecimento), rearranjam e promovem prémios de design, obtidos noutras regiões, ainda que as vendas sejam miseráveis. Abstêm-se de realizar cross marketing visual, nos múltiplos conteúdos, de penetrar novos mercados, de estabelecer formas que abram novos espaços... mas... está sempre tudo bem... é no jornalismo como é no mundo empresarial que se conhece mais...
 
 

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