Falar do Rubin Kazan
é abordar o protótipo do clube russo do século XXI, ou clube europeu,
observando os recentes investimentos em determinadas agremiações desportivas em
várias nações da Europa.
Fundado em pleno
regime soviético, o Rubin não se pode considerar um clube do regime, no que à
URSS diz respeito, uma vez que sempre se manteve na obscuridade, nos escalões
inferiores da antiga potência mundial até ao desmembramento desta.
Apesar de equipa de
sucesso recente, a sua localização faz parte da história da Humanidade, em
plena capital da Tartária, outrora região que se estendia por toda a Tundra e
Estepe asiática, do Mar Cáspio até ao Pacífico, incluindo territórios como a
Sibéria, a Mongólia ou a Manchúria. A influência da Tartária é tal que é
presença ficcional em obras de Nabokov, Dickens, Shakespeare, nas Viagens de
Gulliver ou na derradeira ópera de Puccini, estando também bem presente na
culinária (bife tártaro).
A Tartária ou
Tatarstão actual situa-se no Planalto Leste Europeu, estendendo-se até aos
Montes Urais, a 800 km de Moscovo. Apesar de ter declarado a Soberania em 1992,
como tantas outras repúblicas soviéticas, acabou por não se tornar independente
sendo uma das 21 repúblicas que constituem a Federação Russa.
Como tantos outros
clubes de província, apesar de situado numa das principais cidades russas, o
Rubin Kazan sentiu sempre dificuldades em se afirmar no contexto futebolístico
nacional, mesmo após a passagem do presidente a líder da cidade de Kazan.
Para quem não sabe,
a desagregação do regime soviético levou a que a Rússia se transformasse numa
oligarquia, com o poder concentrado num pequeno número de indivíduos que
souberam explorar e tirar partido do caos gerado com o fim da URSS para tomarem
conta da economia local, notando-se que as repúblicas autónomas e mesmo alguns
Oblast são liderados por figuras com muito capital que emergiram ‘do nada’
durante a década de 90 e no século que vivemos actualmente.
A chegada de Kamil
Ishkarov ao topo da municipalidade de Kazan abriu outras possibilidades ao
Rubin Kazan, recuperando jogadores para o clube, mas com a nuance de haver o
limite à subida de somente um clube daquela zona do país. Corria o ano de 1997
e mesmo com a contratação de jogadores e técnicos consagrados da capital,
Moscovo, o clube não conseguia chegar ao mais alto patamar.
Por muita
competência que possuam, é sempre complicado, especialmente num país tão vasto
e com tantas nações englobadas, um treinador sair da cosmopolita Moscovo para
rumar a Kazan, o que levou ao não sucesso de treinadores como Sadyrin.
O sucesso do Rubin
Kazan não pode ser dissociado de um nome, o seu ainda técnico Kurban Berdiyev,
turqueme de nascimento, campeão no Turquemenistão, figura pouco conhecida à
altura no universo futebolístico, de personalidade fechada, bastante religioso,
mas cuja competência transformou um clube menor num dos poucos a quebrar o
domínio das duas metrópoles russas, Moscovo e S. Petersburgo, imitando o feito
do Alania Vladikavkaz em meados dos anos 90, de uma forma mais consistente.
Berdiyev chega em
2001 a Kazan e tudo mudou. O título da I Divisão em 2002 e na estreia absoluta
na Primeira Liga alcança logo um 3º lugar. Tacticamente culto e inteligente,
Kurban Berdiyev conseguiu transformar um clube ‘inexistente’ na grande força
futebolística da Rússia Central, alicerçado no 4-4-1-1 ou 4-2-3-1, por vezes
variando mais ofensivamente mas sempre com enorme rigor táctico, o que lhe
valeu o bicampeonato em 2008 e 2009, uma taça russa em 2012 e duas supertaças
em 2010 e 2012, esta a expensas do Zenit.
A influência do
turqueme no clube é tal que acumula também o cargo de vice-presidente, faltando
ao clube de Kazan a afirmação no contexto europeu, onde têm passado pelas fases
de grupos da Liga dos Campeões (2009 e 2010), contudo caíndo sempre para a Liga
Europa e somente atingindo os oitavos de final em 09/10.
Sobre Berdiyev ainda
há que sublinhar tratar-se do mais antigo técnico no mesmo clube das duas
principais divisões russas, somando já 11 anos à frente dos destinos do Rubin
Kazan.
Esta época, a
primeira em que a Rússia passa a actuar entre anos, ao invés de fazer a liga
corresponder com o ano civil, o Rubin abriu com o triunfo sobre o campeão na
Supertaça por 2-0, com golos do italiano Bocchetti e de Dyadyun.
Na segunda jornada o
Rubin Kazan defrontou o regressado Alania, campeão russo em 1995, mas que
passou por um mau bocado em anos recentes, originário da problemática Ossétia
do Norte, cujo nome é independentista, em memória aos Alanos, povo ancestral
desta zona caucasiana, antecessor dos Ossetes, numa região onde ainda existem
muitos conflitos, quer entre as Ossétias, a Geórgia, a Chechénia.
Berdiyev regressou ao seu esquema mais habitual, o 4-4-1-1, mantendo
Marcano como defesa sobre a esquerda e posicionando o argentino Ansaldi,
lateral de raíz, como médio esquerdo, actuando Ryazantsev, médio centro de base,
como médio direito, algo comum neste Rubin. O basco Orbaiz estreou-se no miolo,
libertando Natkho para médio de transição e dando a liberdade que o mais jovem
dos irmãos Eremenko, Roman, internacional finlandês mas filho de um antigo
futebolista soviético, para jogar na sua posição natural – 10 – atrás de Haedo
Valdez. O israelita voltou a fazer o gosto ao pé, por duas vezes, e Dyadyun,
entrado no lugar do paraguaio Valdez, também marcou, num triunfo esperado.
Berdiyev demorou
demasiado tempo a mexer na equipa, notando-se nesta partida o conservadorismo
do técnico turquemene. Registo para a estreia de Rondón como titular e para a
saída do 11 titular de Ryazantsev, sem que para isso se tivesse estreado Gokhan
Tore, ficou no banco, optando antes por fazer descair para o flanco Dyadyun.
A época passada, de
transição, Rubin Kazan e Zenit S. Petersburg defrontaram-se quatro vezes, com
três empates e um triunfo em Kazan do Zenit por 2-3 com um bis de Danny,
sublinhando-se que os empates são o mais habitual entre estes dois clubes, em
2010 e 2009 as quatro partidas terminaram a zero, enquanto em 2011 o Zenti
venceu em casa por 2-0 com bis de Kerzhakov e em Kazan observou-se a novo
empate a dois.
Na visita ao
Petrovsky o Rubin Kazan quererá repetir o feito de 2008, onde venceu por 1-3,
na caminhada para o debutante título russo, contudo tal afigura-se como
complicado, desde logo pelo arranque de época de ambas as formações na liga, o
Zenit invicto e o Rubin já com duas derrotas.
Apesar do
favoritismo ser obrigatoriamente do Zenit de Luciano Spaletti, por ser o
campeão em título, por actuar em casa, não será descabido acreditar que o Rubin
possa obrigar os ‘Sine Belo Golubye’ a ceder o segundo empate consecutivo após
o 1-1 em Makhachkala e, observando o que sucedeu na temporada transacta, são
expectáveis golos, senão vejamos 2-2, 2-3, 1-1, 2-2 foram os resultados
obtidos.
Kurban Berdiyev não
deve fugir ao esquema habitual de 4-1-4-1 ou 4-2-3-1, com Ryzhikov na baliza,
Kuzmin e Ansaldi nas laterais, César Navas talvez com Bocchetti no centro
defensivo. Orbaiz deverá permanecer como médio mais defensivo, com Bibras
Natkho na transição e Roman Eremenko assumindo o seu papel de criador, Rondón
ainda se mostrou pouco expedito e entrosado com a equipa mas deverá manter o
lugar na frente de ataque, com Ryazantsev a entrar novamente para equilibrar o
miolo mais à direita, esperando-se que Karadeniz, que gosta de marcar ao Zenit,
entre a titular para dar mais dores de cabeça ao capitão Anyukov e a Criscito.
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