Falar do Rubin Kazan
é abordar o protótipo do clube russo do século XXI, ou clube europeu,
observando os recentes investimentos em determinadas agremiações desportivas em
várias nações da Europa.
Fundado em pleno
regime soviético, o Rubin não se pode considerar um clube do regime, no que à
URSS diz respeito, uma vez que sempre se manteve na obscuridade, nos escalões
inferiores da antiga potência mundial até ao desmembramento desta.
Apesar de equipa de
sucesso recente, a sua localização faz parte da história da Humanidade, em
plena capital da Tartária, outrora região que se estendia por toda a Tundra e
Estepe asiática, do Mar Cáspio até ao Pacífico, incluindo territórios como a
Sibéria, a Mongólia ou a Manchúria. A influência da Tartária é tal que é
presença ficcional em obras de Nabokov, Dickens, Shakespeare, nas Viagens de
Gulliver ou na derradeira ópera de Puccini, estando também bem presente na
culinária (bife tártaro).

Como tantos outros
clubes de província, apesar de situado numa das principais cidades russas, o
Rubin Kazan sentiu sempre dificuldades em se afirmar no contexto futebolístico
nacional, mesmo após a passagem do presidente a líder da cidade de Kazan.
Para quem não sabe,
a desagregação do regime soviético levou a que a Rússia se transformasse numa
oligarquia, com o poder concentrado num pequeno número de indivíduos que
souberam explorar e tirar partido do caos gerado com o fim da URSS para tomarem
conta da economia local, notando-se que as repúblicas autónomas e mesmo alguns
Oblast são liderados por figuras com muito capital que emergiram ‘do nada’
durante a década de 90 e no século que vivemos actualmente.
A chegada de Kamil
Ishkarov ao topo da municipalidade de Kazan abriu outras possibilidades ao
Rubin Kazan, recuperando jogadores para o clube, mas com a nuance de haver o
limite à subida de somente um clube daquela zona do país. Corria o ano de 1997
e mesmo com a contratação de jogadores e técnicos consagrados da capital,
Moscovo, o clube não conseguia chegar ao mais alto patamar.
Por muita
competência que possuam, é sempre complicado, especialmente num país tão vasto
e com tantas nações englobadas, um treinador sair da cosmopolita Moscovo para
rumar a Kazan, o que levou ao não sucesso de treinadores como Sadyrin.
O sucesso do Rubin
Kazan não pode ser dissociado de um nome, o seu ainda técnico Kurban Berdiyev,
turqueme de nascimento, campeão no Turquemenistão, figura pouco conhecida à
altura no universo futebolístico, de personalidade fechada, bastante religioso,
mas cuja competência transformou um clube menor num dos poucos a quebrar o
domínio das duas metrópoles russas, Moscovo e S. Petersburgo, imitando o feito
do Alania Vladikavkaz em meados dos anos 90, de uma forma mais consistente.
Berdiyev chega em
2001 a Kazan e tudo mudou. O título da I Divisão em 2002 e na estreia absoluta
na Primeira Liga alcança logo um 3º lugar. Tacticamente culto e inteligente,
Kurban Berdiyev conseguiu transformar um clube ‘inexistente’ na grande força
futebolística da Rússia Central, alicerçado no 4-4-1-1 ou 4-2-3-1, por vezes
variando mais ofensivamente mas sempre com enorme rigor táctico, o que lhe
valeu o bicampeonato em 2008 e 2009, uma taça russa em 2012 e duas supertaças
em 2010 e 2012, esta a expensas do Zenit.
A influência do
turqueme no clube é tal que acumula também o cargo de vice-presidente, faltando
ao clube de Kazan a afirmação no contexto europeu, onde têm passado pelas fases
de grupos da Liga dos Campeões (2009 e 2010), contudo caíndo sempre para a Liga
Europa e somente atingindo os oitavos de final em 09/10.
Sobre Berdiyev ainda
há que sublinhar tratar-se do mais antigo técnico no mesmo clube das duas
principais divisões russas, somando já 11 anos à frente dos destinos do Rubin
Kazan.
Esta época, a
primeira em que a Rússia passa a actuar entre anos, ao invés de fazer a liga
corresponder com o ano civil, o Rubin abriu com o triunfo sobre o campeão na
Supertaça por 2-0, com golos do italiano Bocchetti e de Dyadyun.
Na segunda jornada o
Rubin Kazan defrontou o regressado Alania, campeão russo em 1995, mas que
passou por um mau bocado em anos recentes, originário da problemática Ossétia
do Norte, cujo nome é independentista, em memória aos Alanos, povo ancestral
desta zona caucasiana, antecessor dos Ossetes, numa região onde ainda existem
muitos conflitos, quer entre as Ossétias, a Geórgia, a Chechénia.
Berdiyev regressou ao seu esquema mais habitual, o 4-4-1-1, mantendo
Marcano como defesa sobre a esquerda e posicionando o argentino Ansaldi,
lateral de raíz, como médio esquerdo, actuando Ryazantsev, médio centro de base,
como médio direito, algo comum neste Rubin. O basco Orbaiz estreou-se no miolo,
libertando Natkho para médio de transição e dando a liberdade que o mais jovem
dos irmãos Eremenko, Roman, internacional finlandês mas filho de um antigo
futebolista soviético, para jogar na sua posição natural – 10 – atrás de Haedo
Valdez. O israelita voltou a fazer o gosto ao pé, por duas vezes, e Dyadyun,
entrado no lugar do paraguaio Valdez, também marcou, num triunfo esperado.
Berdiyev demorou
demasiado tempo a mexer na equipa, notando-se nesta partida o conservadorismo
do técnico turquemene. Registo para a estreia de Rondón como titular e para a
saída do 11 titular de Ryazantsev, sem que para isso se tivesse estreado Gokhan
Tore, ficou no banco, optando antes por fazer descair para o flanco Dyadyun.
A época passada, de
transição, Rubin Kazan e Zenit S. Petersburg defrontaram-se quatro vezes, com
três empates e um triunfo em Kazan do Zenit por 2-3 com um bis de Danny,
sublinhando-se que os empates são o mais habitual entre estes dois clubes, em
2010 e 2009 as quatro partidas terminaram a zero, enquanto em 2011 o Zenti
venceu em casa por 2-0 com bis de Kerzhakov e em Kazan observou-se a novo
empate a dois.
Na visita ao
Petrovsky o Rubin Kazan quererá repetir o feito de 2008, onde venceu por 1-3,
na caminhada para o debutante título russo, contudo tal afigura-se como
complicado, desde logo pelo arranque de época de ambas as formações na liga, o
Zenit invicto e o Rubin já com duas derrotas.
Apesar do
favoritismo ser obrigatoriamente do Zenit de Luciano Spaletti, por ser o
campeão em título, por actuar em casa, não será descabido acreditar que o Rubin
possa obrigar os ‘Sine Belo Golubye’ a ceder o segundo empate consecutivo após
o 1-1 em Makhachkala e, observando o que sucedeu na temporada transacta, são
expectáveis golos, senão vejamos 2-2, 2-3, 1-1, 2-2 foram os resultados
obtidos.
Kurban Berdiyev não
deve fugir ao esquema habitual de 4-1-4-1 ou 4-2-3-1, com Ryzhikov na baliza,
Kuzmin e Ansaldi nas laterais, César Navas talvez com Bocchetti no centro
defensivo. Orbaiz deverá permanecer como médio mais defensivo, com Bibras
Natkho na transição e Roman Eremenko assumindo o seu papel de criador, Rondón
ainda se mostrou pouco expedito e entrosado com a equipa mas deverá manter o
lugar na frente de ataque, com Ryazantsev a entrar novamente para equilibrar o
miolo mais à direita, esperando-se que Karadeniz, que gosta de marcar ao Zenit,
entre a titular para dar mais dores de cabeça ao capitão Anyukov e a Criscito.
Sem comentários:
Enviar um comentário