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Os estrangeiros nas Ligas Europeias de Futebol 2010/11

A lei Bosman revolucionou o futebol como o conhecíamos, há um antes e um depois. Todos se lembram do trio holandês do Milan de Sacchi ou do trio alemão do Inter, das delícias de Stoichkov, Laudrup e Romário no Barcelona, eram os estrangeiros, aqueles dois ou três que faziam a diferença, as estrelas. Inúmeros são os nomes que integraram elencos de sucesso, como Maradona e Careca no Nápoles, Futre no Atlético Madrid, Platini e Boniek na Juventus, são somente alguns exemplos entre tantos outros que o tempo não faz esquecer.

Hoje, é mais complicado encontrar esses estrangeiros, estrelas existem, cada vez mais, em função do avanço tecnológico e mediático que torna tudo muito mais imediato, mas com o assomar dos jogadores de diversas proveniências aos clubes, acabou por se esbater essa noção. Apesar de tudo, quando chegam continuam a vender camisolas, a ser idolatrados pelos fãs ansiosos por vitórias do seu clube de coração.

A lei Bosman foi um paradigma do futebol, uma mudança idêntica e tão forte como qualquer mudança ou evolução táctica no jogo, qualquer alteração das regras que o desporto assistiu, daí tão enorme debate que a entorna. Pode-se criticar, pode-se defender, mas o que não se pode negar é que esta lei é o que o futebol tem de mais moderno, mais acompanhante daquilo que é a sociedade actual. Vivemos numa sociedade onde o imediatismo existe, onde a liberalização económica é uma realidade e onde todos os mercados estão próximos, assim torna-se natural que tal evolução tenha acontecido.

O outro lado remete-nos para a identificação com um clube, ou de uma agremiação com a região onde está inserida. Isto leva-nos para uma equipa, para uma região, o Athletic Bilbao, o País Basco. A identidade nacional aqui é de importância tal que um clube que compete ao mais alto nível, numa das ligas que disputa o título de melhor do mundo, utiliza apenas atletas oriundos da região basca. O que é que isto nos diz? A UEFA e a FIFA tentaram refutar a determinação da União Europeia, que faz todo o sentido, ou seja, dentro do espaço UE qualquer cidadão da União é livre para circular. Não podemos, nem devemos, obrigar a um sistema especial que contradiga a liberdade de um cidadão, compete a cada clube, neste caso, salvaguardar a sua própria identidade.

Neste sentido, boa parte dos clubes mede o deve e o haver, a relação entre ganhar a qualquer custo e manter uma identidade própria, uma relação com os adeptos, notando-se que muitos adeptos criticam o exagero de estrangeiros ao passo que outros aludem à vontade em ganhar acima dessa situação. Claro que, actualmente, em diversos campeonatos, se trazem jogadores oriundos de países estrangeiros devido a ligações 'cinzentas' com o universo empresarial com o intuito de lucros fáceis...

A verdade é que, após a lei Bosman, a profusão de jogadores das mais variadas origens nas equipas de futebol tem sido uma realidade, dando um colorido ao jogo, uma certa excentricidade até, talvez com algum exagero nos números mas... quem pode criticar? A avaliação deve ser sempre realizada em função do comportamento dos atletas, da sua prestação dentro e fora do campo, e das mais-valias desportivas, financeiras... e sociais que trouxeram à instituição que representaram.

Feita a introdução, deixa-se abaixo o gráfico indicando a percentagem de estrangeiros utilizados na época passada nas Ligas Europeias de Futebol analisadas pelo Observatório. Os critérios de identificação de cada futebolista baseiam-se no país representado, no local de nascimento ou na nação adoptada, traduzindo, o primeiro critério é a nação pela qual o jogador é internacional, uma vez que falamos de futebol, o segundo é a nacionalidade adoptada - no caso norueguês, por exemplo, onde quem tem passaporte nacional não pode requisitar segunda nacionalidade, sob perda da nacionalidade norueguesa - o terceiro é o local de nascimento, ou seja, a naturalidade do atleta em questão.

A liga campeã na quantidade de estrangeiros é a do Chipre onde 2 em cada 3 futebolistas utilizados na época transacta eram estrangeiros. Oito das 46 ligas analisadas utilizou mais de 50 por cento dos jogadores com nacionalidade estrangeira, completando o pódio a Inglaterra com quase 63 por cento de estrangeiros e Portugal com perto de 58 por cento de jogadores representantes de outras nações a actuarem na liga principal portuguesa.

Neste pódio temos a liga que se auto-proclama a melhor do mundo, temos a liga portuguesa e uma liga cheia de portugueses... Como em tantos outros aspectos, também os gregos se assemelham connosco neste departamento, estando praticamente empatados com a liga portuguesa na percentagem de estrangeiros a jogar por lá. Segue-se o Luxemburgo, com dados um tanto ou quanto difusos dada a elevada percentagem de comunidades estrangeiras a residirem no grão-ducado, a Bélgica, a Suíça e a Alemanha, tudo países com elevadas comunidades imigrantes, o que também contribui para esse alto número de não-nacionais, digamos assim.

No pólo oposto encontram-se a Geórgia, destacada com menos de três por cento de estrangeiros, a Macedónia e a Irlanda do Norte com pouco mais de um estrangeiro por 10 jogadores utilizados, ambos abaixo dos 12 por cento.

As conclusões que se podem retirar deste gráfico dizem-nos desde logo que as ligas com menor número de estrangeiros são pouco competitivas. Quer se queira, quer não, os jogadores vindos de outras paragens trazem acréscimo às ligas, por terem crescido noutra cultura futebolística, por terem vivido outras experiências, a nível de treino, a nível social, aportam ou podem aportar mais-valias.

Também se consegue concluir que, por muitos estrangeiros que se tragam, não é apenas isso que vai melhorar a liga, apesar da liga cipriota estar a subir nos rankings UEFA. Acima de tudo, boa parte das ligas medita sobre a situação, têm-se realizado estudos, mas tal sucede de forma conjuntural, sem a continuidade necessária, até porque as principais ligas europeias se sentem relativamente satisfeitas com a situação. Será necessária uma maior intervenção da EPFL no sentido de menorizar as assimetrias existentes nas ligas europeias e contribuir de forma visível e determinada para o crescimento e desenvolvimento do jogo em todo o continente.





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