A mediocridade das palavras manteve-se igual às temporadas anteriores, para infelicidade do futebol português, cujo produto é bastante vendável, tem décadas de confirmação de porta de entrada e de burilo de enormes talentos, porém continua a autodestruir-se pelos seus dirigentes.
Em 2021/22 voltaram a emergir talentosos nomes, numa lista que é sempre subjetivada ao gosto de cada um, por aquilo que cada nome oferece, pelas conotações futebolísticas, por diversos fatores, os mesmos que determinam ou condicionam as escolhas, contudo alguns são sempre unânimes.
O título voltou à Invicta, numa época em que Sérgio Conceição surpreendeu com a titularidade de Diogo Costa, tendo porém ganho protagonismo futebolístico quando foi obrigado, devido a lesões, a colocar em campo Vitinha e Fábio Vieira, cujo talento e potencial há muito se reconheciam, no entanto pareciam juntar-se ao imenso leque de enormes talentos formados no Olival cujo aproveitamento na equipa principal do FC Porto foi nulo. Não foram primeira ou segunda escolha do coimbrão, mas o que começaram a mostrar nos relvados 'forçaram' o treinador a mantê-los e a qualidade futebolística dos dragões subiu notoriamente, estando este trio entre as revelações da liga, pois ainda pouco ou nada haviam mostrado a confirmar o potencial que lhes era dado.
Na baliza surgiram, como em todas as temporadas, alguns nomes a realçar, mas Diogo Costa assume a primeira escolha como revelação. Nascido na Suíça e criado na Vila das Aves, em Santo Tirso, o 'jesuíta' é internacional luso em todas as categorias desde os sub15 e o potencial que demonstrou nas camadas jovens coloca-o mesmo acima de Vítor Baía. Uma maior ousadia poderia ter evitado a contratação de Marchesín, que é extraordinário, lançando o jovem luso ainda adolescente na primeira equipa com força, como o Sporting CP fez com Rui Patrício, por exemplo, ou o próprio FC Porto realizou com Baía, ainda que, neste caso, por infortúnio de Mlynarczyk e o processo disciplinar ao malogrado Zé Beto permitiu ao gaiense um inesperado debute e abriu espaço à gigantesca carreira.
Diogo Costa, comparativamente, tinha maior potencial, algum dele já desperdiçado por três épocas de pouca utilização, contudo as qualidades mantêm-se lá e a inesperada oportunidade assegurada por Conceição, contra todas as expectativas face ao desempenho do internacional argentino, permitiu a Diogo Costa chegar à seleção 'AA' e tornar-se na primeira escolha de Fernando Santos nos mais recentes confrontos.
Além de Diogo, sublinhe-se as balizas de Estoril-Praia, onde Dani Figueira mostrou que tem lastro e qualidade para altos voos, desempenhando-se em qualidade nos 'Canarinhos' num enorme orgulho certamente para o Santa Eulália, onde se iniciou, mesmo que este debute não tenha sido no clube da terra, em época onde o Vizela também regressou ao máximo escalão!
Curiosamente, Dani Figueira e Diogo Costa já partilharam as redes das seleções!
A soberba época do Gil Vicente fica marcada por vários nomes de grande qualidade e potencial, a começar pelo técnico, Ricardo Soares, que dividiu a baliza entre o brasileiro Andrew, interessante, e o esloveno Ziga Frelih, bastante interessante, sendo este a terceira escolha para revelação das balizas 21/22 na liga bwin.
Na lateral direita há uma feliz adaptação no campeão nacional, João Mário, ainda com as normais debilidades defensivas de quem sempre alinhou na linha ofensiva, mas a demonstrar uma bela condição para a posição, todavia a grande revelação justificou a sua contratação pelo Manchester City ao Coritiba em 2020, Yan Couto foi cedido ao Sporting Braga e Carvalhal provou que o jovem catarinense tem a glória à sua espera, curiosamente a ser o segundo lateral direito de qualidade superior que chega à liga lusa oriundo dos 'citizens', tal como Porro.
Yan tem um potencial ofensivo tremendo e observaram-se notórias melhorias no capítulo defensivo do jogo, mérito de Carvalhal e da sua equipa técnica. Tem competências para chegar à 'AA' canarinha a médio prazo, assim como para vingar no City, onde as laterais continua a exibir fragilidades defensivas claras.
Zé Carlos pertence aos quadros do Sporting Braga, aproveitando da melhor forma a cedência dos 'Arcebispos' aos 'Galos' para confirmar o talento que já exibia no Leça, em pleno Campeonato de Portugal, reforçando o espaço competitivo interno e qualidade que existe nos escalões secundários, haja vontade dos clubes em crescerem por si e não ficarem reféns de jogadas cinzentas.
Outro nome que há cerca de duas épocas estava no Campeonato de Portugal é Filipe Relvas, espinhense de nascimento, com formação entre os 'Tigres' e os 'Fogaceiros', que depois de Gondomar e Pedras Rubras é recrutado para os sub23 do Portimonense e lançado por Paulo Sérgio na equipa principal, com resposta positiva. Um central impositivo, esquerdino, forte na marcação, com tudo para chegar mais longe no futebol luso.
Também a saltar dos sub23 para a equipa principal, o 'Pestinha' Alexandre Penetra, oriundo da região de Viseu, apareceu a sério nesta época no Famalicão, retornando às seleções portuguesas, onde havia estado aquando do seu tempo no Seixal, ao serviço do Benfica, com Rui Jorge a perceber o bom desempenho no 'Amor de Perdição' e a levá-lo para os sub21.
Lucas Cunha já se tinha mostrado na formação secundária dos 'Gverreiros do Minho', no entanto parecia destinado a 'B', passando pela mesma situação no Celta Vigo. O regresso a Portugal, para o Gil, todavia, apresenta-se como o melhor cartão e o matogrossense será um dos 'requisitados' do Gil Vicente, perante a excelente época realizada.
Matheus Reis foi outra das grandes revelações na Liga Bwin 21/22, com Rúben Amorim a transformar um lateral esquerdo sem grande protagonismo no Rio Ave num defesa polivalente de enormes atributos, a surpreender todos nesta edição da prova.
Depois de várias experiências em LaLiga espanhola, formado no Villarreal e a passar por Leganés, Alavés e Granada, sem uma afirmação completa, conseguindo 'explodir' na cedência ao Famalicão, Adrián Marín é um nome a acompanhar atentamente.
O estatuto de revelação maior e grande talento da edição 21/22 da liga portuguesa cabe a Vitinha!
Outro 'jesuíta' da Vila das Aves, Vítor Ferreira, vulgo Vitinha, esteve cedido ao Wolves na época passada, mas não só não teve os minutos que se poderiam antecipar com Nuno Espírito Santo, como não viu o clube exercer a cláusula de opção pelo seu passe, regressando ao FC Porto para ser alternativa aos nomes fortes do plantel. As lesões de Uribe, Grujic, Otávio, Sérgio Oliveira levaram Conceição a introduzir um novo perfume no miolo portista, um aroma sem igual e uma essência que não existia no plantel, nem mesmo na liga, o que tornou um jovem com poucas expectativas de titularidade no arranque de temporada, até visto como possível cedido ou vendável, num elemento preponderante no título dos 'Dragões' e já sublinhado por vários 'tubarões' europeus, que veem, agora, um maestro de batuta primorosa e única.
Num outro registo, um sublinhado claro a André Franco, mais um valor a surgir a partir da equipa de sub23, no caso a estorilista, passando a ganhar muito protagonismo com Bruno Pinheiro na formação principal do Estoril-Praia.
Quem acompanha a JLeague não se surpreende com os nomes que se sucedem no futebol europeu, mas a verdade é que Kanya Fujimoto, emprestado pelo Tokyo Verdy ao Gil Vicente, trouxe novamente o glamour do futebol nipónico, um mercado bem acessível e cujo retorno é claro e evidente. Fujimoto foi uma das sensações da Liga bwin e tem tudo para permanecer no futebol europeu.
O novo 'Otávio', não é extremo, não é interior, não é médio ofensivo, é tudo isso e ainda mais, Fábio Vieira demorou algum tempo a se afirmar, mas também provou a Sérgio Conceição que tinha de ser titular no FC Porto, a realizar uma época formidável e a mostrar competências de médio completo e com aptidões para avançado, visão antecipada para um último passe preciso e letal, a crescer nas compensações e antecipações, um exemplo de um médio atual, capaz de fazer tudo dentro de campo.
Sem espaço de afirmação no máximo escalão suíço, Pickel rumou a França para procurar mostrar-se na Ligue 2 gaulesa, onde alinhava no Grenoble quando o Famalicão o resgatou. Em boa hora o fez, pois o suíço-congolês demonstrou a sua potência, recuperando um espaço que já parecia perdido para si. Aos 25 anos ainda tem muito para poder crescer.
Samu Silva sobe consecutivamente com o Vizela e demonstra que a sua dispensa pelo Boavista foi precipitada, é mais um jovem feirense, que se iniciou no Paços de Brandão, dividiu depois a formação entre FC Porto e Boavista, mostra-se no Campeonato de Portugal, entre Fafe e Sporting Espinho, e confirma todo o seu potencial no Vizela de Álvaro Pacheco, é um jogador para mais.
Ainda nas Caldas de Vizela, é impossível não mencionar Kiko Bondoso, que aqui foi trazido quando primeiro surgiu no Campeonato de Portugal, ainda no Moimenta e, depois, no Ferreira de Aves.
Bondoso é um nome que já poderia estar no máximo escalão nacional, não fosse o claro preconceito, ou a sujeição ao cinzentismo de bastidores, há algum tempo, tal como vários outros nomes que brilham nos escalões secundários portugueses.
Também Nuno Moreira, formando do Sporting CP, natural de Espinho, aproveitou bem a passagem pelo Vizela para mostrar o seu talento natural.
Na frente de ataque sobressaem o croata Petar Musa, o espanhol Fran Navarro e o cabeceirense Vitinha.
O avançado luso foi promovido de vez por Carvalhal e respondeu da melhor forma, 'roubando' mesmo a titularidade ao espanhol Abel Ruiz durante parte da temporada. Vitinha é um dianteiro com margem de progressão!
Musa parece atrair a bola como imã, ou sabe posicionar-se e tem o instinto goleador que se pede a um avançado centro mais clássico. Bom desempenho no Bessa.
Fran Navarro perdeu algum fulgor no final da época, mas isso não retira o protagonismo que ganhou, numa altura em que tanto se falava da transferência milionário de Samuel Lino, o jovem valenciano mostrou que tinha talento e que vinha para somar num Gil Vicente histórico.
Também Simon Banza brilhou esta época em Portugal, cedido ao Famalicão pelo Racing Lens, a chegar, ver e marcar!
Gonçalo Ramos sobe no Benfica com estatuto de goleador, mas as suas exibições com Veríssimo fazem antever um avançado de competências raras, com grande capacidade de sacrifício, a combinar com os colegas, a sair da zona de finalização, está a moldar-se para ser grande, esperando-se que não lhe seja retirada a acutilância finalizadora.
Álvaro Pacheco não espantou quem o conhecia, mas certamente muitos 'adeptos' apenas de algumas partes da Liga bwin terão ficado agradados com o que o treinador trouxe com o Vizela, a mostrar que se pode ganhar a jogar bem e sem necessitar de revoluções no plantel!
Também Bruno Pinheiro trouxe um Estoril-Praia bem agradável, assim como Rui Pedro Silva, que 'recuperou' o Famalicão e catapultou-o para a primeira metade da tabela no final da prova.
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