30 edições se passaram numa prova que 'abre' o apetite europeu e do futebol profissional para os jovens que nela participa(ra)m, certezas, ilusões, desilusões em mais de três décadas de Europeu de sub16/17, na busca do futuro, do talento, da escola que se afirmará no 'Beautiful Game'!
É um Europeu que se pode ver como controverso, arrancou com uma fase final a quatro, nas duas primeiras edições, passando logo para 16, num modelo que permitia - e visava, cremos, - a troca de experiências, a primeira aventura e estada no estrangeiro para muitos dos participantes, numa altura em que a Europa ainda se dividia em dois blocos, já em queda mas ainda presentes, sem a panóplia de nações resultantes do desmembramento da União Soviética e da Jugoslávia, contudo foi um formato que durou até ao ano seguinte à mudança de paradigma etária, quando os escalões jovens deixaram de obedecer à época desportiva europeia, passando a ajustar-se ao ano civil.
2002 foi o ano de estreia do escalão sub17 - no que a esta prova concerne -, iniciando-se a fase final a oito no final da temporada 02/03. Numa idade onde a troca de experiências se deve alimentar, numa altura em que toda a logística associada a um evento desta natureza se tornou bem mais simples, em função da evolução das tecnologias, da baixa de preços nas tarifas aéreas com o aparecimento das companhias 'low-cost', também a UEFA entendeu que seria melhor uma prova final a oito, situação que se alterará em 2015, regressando-se ao formato de 16 selecções na fase final, ficando mais de uma década de retrocesso, em nosso entender, da competição.
Já emitimos antes a nossa opinião, entendendo que estas provas poder-se-iam disputar por divisões, entendendo que em ano de apuramento para os mundiais tal situação se complica, mas realçando a falta de competição que uma enorme fatia das 53/54 federações nacionais tem, deixando a prova após um mini-torneio de três desafios, o que impossibilita uma evolução competitiva, uma aprendizagem técnico-táctica com oponentes que utilizam modelos de jogo e treino, muitas vezes, bem distintos. Os torneios que muitas federações organizam para oferecer o ritmo não se comparam à possibilidade de se efectuar nove, 10, 12 desafios com outras selecções do continente, com um objectivo, imaginando-se por exemplo uma Divisão A de 12 selecções, uma Divisão B de outras 12 selecções e as restantes divididas por dois grupos numa Divisão C, à semelhança do que sucede no basquetebol, jogando todas contra todas em três ou quatro mini-torneios, não diferentes dos que acontecem actualmente mas com classificação cumulativa e, quem sabe, uma fase final ou uma superfinal para cada Divisão, com subidas e descidas, evitando também as 'assimetrias' de jogo que existem e resultam, bastas vezes, em pesadas derrotas para selecções como Malta, Luxemburgo, Liechtenstein...
Passando estas considerações, que apenas reflectem a nossa visão e uma possibilidade distinta de competição, olhamos para o Europeu em si.
A Espanha é a grande dominadora da prova, tendo já ganho por oito ocasiões, estando Portugal logo a seguir com cinco triunfos, num Europeu de sub17 que já viu 15 países diversos levantarem o troféu, além dos países ibéricos, França, Inglaterra, Suíça, Polónia, República da Irlanda, União Soviética, República Federal Alemã, Checoslováquia, Rússia, Itália, Alemanha, Turquia e Holanda, as últimas três por duas ocasiões, com a selecção transalpina a triunfar em duas ocasiões mas a utilização irregular de um jogador em 1987 levou a que a UEFA lhe retirasse o título e não o atribuísse a nenhuma outra.
Como principal vencedora, é natural que a selecção espanhola seja a recordista de presenças, 24 passagens pela fase final, 17 das quais consecutivas entre 1988 e 2004, posicionando-se a França a seguir com 20 e Portugal com 19 mas apenas uma nas nove mais recentes edições, 2013 incluída.
Esta prova nem sempre dispôs dos melhores. A Inglaterra, por exemplo, sempre olhou para as provas continentais com desconfiança, sendo normal não chamar os melhores jovens para estas competições, mas foi um dos primeiros primados dos estrelatos para miúdos que posteriormente se tornaram estrelas do jogo, claro que por cada um que se transformou num ídolo, 10 quedaram-se pelos escalões secundários ou abandonaram a prática da modalidade, é a lei da vida.
Carlos Queiroz chega aos quadros da FPF em 1987 e, logo depois, começa um principado luso no futebol jovem europeu, presenças constantes em fases finais, luta por títulos, métodos inovadores, um 2º lugar em 1988 e o título europeu em 1989, meias-finais em 90 e 92 e novos triunfos em 95 e 96.
A despedida dos sub16 fez-se com o sexto triunfo espanhol, numa selecção que tinha como figura de proa um tal de Fernando Torres, bem secundado por Iniesta e Gavilán.
O domínio ocidental é claro, até porque, além dos ingleses, também as selecções de leste, quer nos anos 80 por opções políticas, quer nos anos 90 pelo caos e necessidade de reorganização de todos os patamares competitivos, reestruturação de nacionalidades, estiveram afastadas das fases finais, com algumas excepções, mas ainda cimentando internamente e criando estruturas para afirmação futura, que se vem verificando no novo século.
É interessante observar a mescla de domínios e escolas, ou como a evolução do jogo, em várias paragens, tem trazido algumas selecções à ribalta. É comum falar-se de gerações de ouro, com toda a subjectividade inerente. Seria mais avisado analisar o trabalho federativo/técnico nas selecções, pois o que Carlos Queiroz e a sua equipa fizeram em Portugal outros também o conseguiram nos seus países, percebendo-se contudo uma falta de capacidade das federações - que não Espanha, França, Alemanha, Holanda ou Inglaterra - em compreender a necessidade de estabelecer um plano constante e evolutivo, independente dos quadros técnicos, que devem assumir esse trajecto, se bem delineado, acompanhando sempre as mudanças, as modernizações de treino, por forma a manter estas selecções jovens num patamar alto, ressalvando-se o facto de tal também depender sempre do trabalho dos clubes, em nações sem uma forte estrutura jovem, sem centros de formação próprios.
A Turquia é um exemplo do acima descrito, com um título em 1994, na segunda de cinco presenças consecutivas, voltando a ganhar em 2005, numa terceira fase de desenvolvimento do futebol turco, agora assente, mesmo nas camadas jovens, no forte núcleo de turco-germânicos, cuja competência futebolística é totalmente adquirida na Alemanha, e cujas raízes os levam a, várias vezes, conhecerem o solo ancestral apenas quando chegam para representar as selecções turcas.
A Polónia foi campeã em 1993, numa sequência de 10 fases finais em 13 anos, sem grande sucesso a nível sénior e com um fim de ciclo em 2002, altura em que rebentou mais uma sequência de escândalos dentro do futebol local, corrupção, coacção, raptos, situações que voltaram a mergulhar o futebol polaco numa escuridão de resultados.
O trabalho na Suíça tem sido bem valioso. Um país onde o peso da força imigrante é extremamente forte e que tem tirado partido, em todas as modalidades, disso mesmo, agregando à capacidade analítica e frieza alpina helvética o fervor e paixão balcânicos, a força e rapidez africanas, acolhendo toda essa massa migrante numa amálgama que fortalece e solidifica uma nação cujo potencial futebolístico nasceu nos anos 30, por Rappan, exactamente pela vertente defensiva, reconhecendo este pioneiro da táctica austríaco que a única forma de se bater com outras selecções, à frente de uma débil Suíça, seria reforçar a componente defensiva, surgindo agora, já no século XXI, o laivo de criatividade vindo, geneticamente, de outras bandas.
A Espanha bisou em 07 e 08, reforçando o seu império nesta competição, alicerçada num modelo de desenvolvimento da formação preparado para o desporto espanhol na antecâmara dos Jogos Olímpicos de 1992 e que catapultou a Espanha para o topo do desporto mundial num grande número de modalidades, não sendo o futebol diferente.
Os pormenores podem fazer toda a diferença, mas para qualquer escalão de formação o mais importante deve ser o participar, há o orgulho do triunfo, o chegar a casa com uma medalha de campeão, no entanto o mais relevante é crescer-se, é perceber-se e aprender-se a respeitar as diferenças, os estilos, os modelos sempre com o objectivo de se ser homens melhores e, consequentemente, futebolistas melhores.
A edição 2013 da prova terá vários regressos, a Suécia após 13 anos de ausência, a que se junta a Rússia, campeã em 2006 mas fora das fases finais desde aí, a organizadora Eslováquia desde 2000, a Croácia participou pela derradeira vez em 2005 e a Áustria em 2004.
A anfitriã Eslováquia conta com três estrangeiros, não contabilizando o guardião Semanko, que actua na vizinha Rep. Checa, o médio Lesniak, que se mudou de Kosice para Londres em 2012, defendendo as cores do Tottenham, Zazrivec trocou Banska Bystrica por Birmingham em Agosto, jogando agora nos escalões jovens do Aston Villa, e na Juventus encontra-se o central Attila Varga, que rumou a Turim proveniente do Zemplin, mas a 'estrela' da companhia será Kacer, já presença habitual nos convocados do campeão Zilina, um médio interessante, de bitola centro-europeia, que liderará o quinteto do Zilina, onde também Cmelik já foi utilizado pelos seniores, bem como o defesa Denis Vavro.
A Áustria apurou-se na primeira ronda qualificativa na segunda posição, atrás de Suíça, encabeçando a ronda de elite, onde defrontou Sérvia, Rep. Irlanda e Geórgia.
Os alpinos contam com alguns 'estrangeiros' também. O guardião Bundschuh mudou-se do Vorarlberg para o Freiburg no Verão passado, o lateral Michael Lercher deixou o Tirol para rumar ao norte germânico, actuando agora no Werder Bremen. Gluhakovic, defesa direito, já é habitual escolha na segunda equipa do Áustria Viena, tal como o médio Sascha Horvath, do mesmo clube, ou Zivotic. Contudo, quem chama já a atenção - recusou mesmo a transferência para o Inter Milão no ano passado - é Valentino Lázaro, filho de angolano, é um versátil médio nascido em Graz mas que já vai jogando na principal formação do Red Bull Salzburg e será um dos talentos a seguir com mais atenção nesta prova.
Além dos habituais genes 'jugoslavos', é engraçado observar o talento africano acima descrito, que também tem raíz grega, ou Luca Mayr-Falten, de pai sueco, um bom concretizador, avançado centro-europeu, versátil, que também pode sobressair. Grbic mudou-se do Rapid Viena para o Estugarda e apontou 18 golos em 18 desafios nos 'juvenis' do clube alemão. Junta-se o austro-italiano Tobias Pellegrini, outra força concretizadora da natureza.
Partilhou o apuramento inicial com a vizinha Áustria e na ronda de elite a Suíça ultrapassou Polónia, Rep. Checa e Israel, participando agora na 15ª fase final do Europeu da categoria.
Tal como a vizinha alpina, também a Suíça conta no seu lote de convocados com os nomes 'jugoslavos', o guardião Matic, Drakul, Kadoic, Grgic ou Stevic, apresentando-se com cinco elementos do Basileia e outros tantos do FC Zurique no plantel. Drakul é visto como um potencial sucessor de Dragovic no centro da defesa do Basileia. O polivalente Phi Nguyen, de raíz vietnamita mas nado e criado no meio dos Alpes, pode ser alternativa na defesa ou no meio-campo, assim como Deni Kadoic, que já actuou também pelos sub16 croatas e poder-se-á assumir como o dínamo do miolo helvético. Marco Trachsel já foi convocado para a segunda equipa do Grasshopper, enquanto Robin Kamber é dado como um criativo de alto potencial em Basileia. Também do Basileia é João Pedro de Oliveira, cujo nome não engana sobre as suas origens.
A fechar o Grupo A está a Suécia, apurada na ronda de qualificação em 2º, atrás de Irlanda e deixando pelo caminho Roménia e Macedónia, e no topo da ronda de elite, onde eliminou Hungria, Finlândia e Bielorrússia, que também conta com forte influência balcânica, sempre presente mas fortalecida fortemente aquando da(s) guerra(s) civi(s) no desmembramento da Jugoslávia. Sujic, Halvadzic, Berisha ou Lipovac, aos quais se junta o 'sabor' africano de Sonko e Ssewankambo.
O guarda-redes Mohlin já se sentou no banco sénior do Malmo FF; o central Linus Wahlqvist já treina com o plantel principal do IFK Norrkoping, tal como Bergman no Sirius, enquanto o médio Elias Andersson já saltou do banco por três ocasiões na Allsvenskan 2013, ao serviço do Helsingborgs, ele que é o capitão desta equipa, notando-se a maturidade já presente no jovem.
De origem ugandesa, mas nascido na Suécia, Ssewankambo actua nos sub21 do Chelsea. O médio ofensivo Viktor Nordin também poderá chamar a atenção na prova, ele que já vai treinando com os seniores do Hammarby. Lipovac é um dos principais nomes, cobiçado por diversas formações no estrangeiro, vai actuando no Karlslunds.
GRUPO B
A Rússia actuou no Grupo 11 qualificativo, apurando-se na 2ª posição, atrás de Rep. Checa e à frente de Dinamarca e Montenegro. Na ronda de elite superaram Inglaterra, Portugal e Eslovénia.
Grande parte dos jogadores russos, ainda juvenis, jogam nas segundas equipas das formações cujas cores defendem, pois este é o real conceito de equipa B, uma mistura de jovens seniores, juniores e juvenis, não um plantel de seniores com um ou outro elemento das camadas jovens a integrar cada convocatória...
Se os países da Europa, dita, Ocidental assentam bases em talentos oriundos dos balcãs, de África, da América do Sul ou da Turquia, a Rússia 'absorve' elementos das antigas repúblicas soviéticas, observando-se elementos de origem turquemene, moldava ou ucraniana.
Mitryushkin é visto como um guardião de futuro e o Spartak Moscovo acredita no seu potencial, havendo mesmo quem já o refira como substituto de Akinfeev na selecção principal daqui a alguns anos. O defesa centro-esquerdo pertence ao Zenit, jogando na segunda equipa, e é russo-turqueme, como o nome indica, Jamaldin Khodzhaniyazov. Também do Zenit é o avançado Gasilin, outro nome para futura referência. Para a direita está convocado Nicolaes, lateral do CSKA nascido na Moldávia. Danil Buranov é um médio que poderá deixar água na boca, também ele dos quadros do Spartak Moscovo, com passada e passe interessantes, apesar de por vezes inconsequente.
Diversos dos convocados ainda se encontram em Academia (Chertanovo), fundada em 76, que trabalha rapazes e raparigas até aos 17 anos. São seis no total dos convocados, num exemplo que deveria ser olhado e aproveitado por outros no Ocidente. Um deles é Zuev, nascido no Casaquistão mas que cresceu nesta Academia e entra nesta selecção para marcar e assistir.
A grande força do futebol soviético, apesar de trazer talentos de todos os cantos, desde o Cáucaso até Kaliningrado e desde Balti até Vladivostok, era originária na Ucrânia, num frágil equilíbrio entre Rússia e Ucrânia, não espantando que tenham sido estes dois grandes países a primeiro assumirem preponderância no panorama futebolístico internacional pós-queda do Muro de Berlim.
Agora, em lados diferentes dos relvados, encontram-se novamente frente-a-frente, como o fizeram por séculos, cada um a querer provar superioridade, num embate de estilos em campo sempre interessante de assistir.
Tal como os vizinhos russos, alguns ucranianos já jogam futebol sénior nas segundas equipas, como é o caso do guardião Bezruk do Chernomorets Odessa, Shtanenko no UFK Lviv, Kuksenko no Metalist Kharkiv ou Tretyakov do Dnipro, enquanto vários outros - como os do Dínamo Kiev - são parte integrante do plantel júnior. Nota-se também a presença de futebolistas do Cáucaso nas selecções jovens ucranianas, aqui com Beka Vachiberadze, de origem georgiana, e Ardelyan, com raízes arménias.
É habitual comparar-se Portugal com o Brasil, pelos elevados atributos técnicos, pela proximidade linguística e histórica, mas existe outra selecção europeia globalmente conhecida como o 'Brasil da Europa', a Croácia.
A Jugoslávia era um mosaico de nações que... resultou em seis boas selecções, atletas de topo em inúmeros desportos, à qual falta acrescentar o Kosovo, ainda me busca de reconhecimento absoluto internacional mas cujos 'filhos' abrilhantar relvados por esse mundo fora.
A Jugoslávia era um mosaico de nações que... resultou em seis boas selecções, atletas de topo em inúmeros desportos, à qual falta acrescentar o Kosovo, ainda me busca de reconhecimento absoluto internacional mas cujos 'filhos' abrilhantar relvados por esse mundo fora.
Nos croatas estão convocados Marko Maric, chamado aos sub16 austríacos antes e parte dos quadros do Rapid Viena, actuando na equipa B, o central Duje Caleta-Car do Sibenik, contando com 14 desafios na segunda divisão croata esta temporada, Lukas Culjak, central nascido na Alemanha e parte da equipa juvenil do Bayern Munique, Josip Basic já se estreou na principal equipa do Hajduk Split, um ala direito para ver melhor, mas os talentos são o já conhecido Halilovic e Roguljic, com transferência assegurada para o Red Bull Salzburg, por valores a rondar os dois milhões de euros, ao que consta.
Fran Brodic já foi chamado à equipa do Dínamo Zagreb, reconhecendo-se a capacidade concretizadora deste miúdo, ainda juvenil de primeiro ano.
A representante latina em 2013 é a Itália, segunda na ronda qualificativa atrás da Hungria e líder do Grupo 7 da ronda de elite adiante de Noruega, Holanda e Irlanda do Norte.
Com representantes de Juventus, Udinese, Inter Milão, Milan AC, AS Roma ou Nápoles, pode-se dizer que é uma selecção italiana mas é um jogador da Atalanta Bérgamo que poderá atrair mais a atenção, Mario Pugliese, médio de transição que não deverá ficar por lá muito mais tempo. Outro nome que poderá sobressair pertence ao Torino, Vittorio Parigini, habitual escolha da Primavera, que gosta de fazer sofrer os defesas oponentes. Também se conta um atleta do Chievo, do Empoli e, claro, do Parma, onde Alberto Cerri, goleador desta selecção, já se estreou na principal formação.
Os restantes avançados, Bonazzoli - ainda com 15 anos -, Tutino e Vido prometem dar continuidade à longa tradição de avançados em Itália!
O Europeu está prestes a arrancar e não faltam pontos de interesse, talento a rodos e a expectativa de ver melhor as estrelas de depois de amanhã!
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